Moda Sustentável
O estilo de vida verde já tem mercado para consumidor de produtos alimentícios e de beleza orgânicos, só faltava vestir, literalmente, a causa. Num primeiro momento, esse tipo de produto tinha um certo caráter artesanal, com ex-hippies oferecendo sandálias de pneus reciclados. Agora dá para encontrar todo tipo de vestuário e acessórios feitos dentro desses conceitos.
Apesar de ser o assunto do momento, a moda ecologicamente correta sofre de vários males, um deles é que ninguém sabe exatamente o que é e onde comprar.
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A “etiqueta social” Edun é um exemplo perfeito de uma linha que tem tudo pra dar certo, mas ainda assim sofreu todo tipo de problema tentando fazer o bem para o planeta. Apesar de contar com Bono Vox na retaguarda, não tem vendido o esperado. Um dos sócios, Rogan Gregory, aponta uma lista de problemas: foi difícil achar algodão orgânico de boa qualidade onde a companhia precisava, era impossível criar peças mais complexas e até com bom corte, devido a empregados treinados inadequadamente nos países onde a marca produzia. Problemas de infra-estrutura nacional dificultavam o transporte e o tempo de entrega.
O Wal-Mart está investindo pesado no ramo desde 2004, a ponto de ser hoje o principal comprador de algodão orgânico no mundo. Mesmo que outras redes varejistas sigam o mesmo caminho, pode faltar matéria-prima no mercado.
Atualmente, o algodão orgânico representa apenas 1% da produção global dessa commodity. É por isso que muitos especialistas sugerem que as roupas ecológicas nunca irão substituir as tradicionais — elas devem servir muito mais para reforçar o marketing das empresas interessadas em associar seu nome a ações politicamente corretas.
No Brasil, a confecção Coexis, de São Paulo, está produzindo o primeiro índigo nacional feito com algodão orgânico. Um dos clientes é a grife carioca Osklen, que encomendou uma coleção completa para ser colocada no mercado nos próximos meses. Na última edição da SPFW, a Osklen apresentou sua coleção feita de algodão orgânico, sem uso de agrotóxicos, e com peças de preferência recicladas. A Goóc já faz sucesso até em Paris. A CoopNatural, da Paraíba, vai colocar no mercado, dentro de dois meses, as suas primeiras peças feitas com algodão colorido cultivado de forma orgânica. A Natural Fashion usa algodão orgânico colorido naturalmente em suas peças. A Damyller está lançando uma linha de produtos 100% naturais. Uma bolsa da Amazon Life usa látex e algodão com tingimento natural. Alguns modelos das marcas Dzarm, Flor e Essencial são feitos a partir da fibra de bambu, uma boa alternativa ao algodão convencional.
A marca catarinense Nara Guichon aproveita em suas bolsas redes de pesca que seriam descartadas e a Track & Field usou garrafas plásticas e fibras de bambu em sua nova coleção esportiva.
Entretanto nem sempre o uso de materiais naturais é sinônimo de moda ecologicamente correta. A fibra de bambu, produzida apenas na China, gera polêmica entre os ambientalistas. Seu transporte queima combustíveis fósseis, que emitem gases do efeito estufa. Já o jeans continua como uma das categorias mais impraticáveis de serem verdadeiramente ecológicas, enquanto o algodão orgânico pode entrar no lugar do índigo, o processo em si – que usa quantias excessivas de água, energia, lavagens e químicas – torna o termo “jeans orgânico” contraditório.
A idéia de transformar a indústria da moda em sustentavelmente verde não é realista, já que usar tingimento de baixo impacto é uma técnica artesanal e, portanto não pode se traduzir em escala industrial. A indústria da moda está investindo muito tempo e esforço em responder como pode ajudar a salvar o planeta, mas os resultados não acrescentam muito. E é justamente o mercado que move a moda em direção a freqüentes mudanças de novas coleções.
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